Chef David Hertz e a culinária social ” Gastromotiva”

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O chef acredita no poder da gastronomia para mudar o mundo — uma garfada por vez
Aos 18 anos, como vários jovens de origem judaica, o curitibano Hertz fez as malas para passar uma temporada em um kibutz em Israel. De lá, percorreu o mundo em busca de uma missão. Encontrou na volta, dando aulas de cozinha em uma favela de São Paulo. Ali, se deu conta do que poderia compartilhar à mesa.
Como os 7 anos que você passou viajando pelo mundo impulsionaram sua entrada na gastronomia?
Eu sempre soube que moraria em Israel com 18 anos. Quando fui, acabei entendendo que não precisava voltar e cursar uma faculdade, fazer uma carreira tradicional de jovem brasileiro. Resolvi me jogar no mundo e comecei cada vez mais a me interessar pelo Oriente. Isso foi no início dos anos 1990, a gente não tinha muita informação daqui sobre a vida lá. Eu me apaixonei, me tornei um peregrino em uma busca. E a comida desses lugares, como a Índia e a Tailândia, me fascinou. Virei vegetariano e comecei a cozinhar para mim mesmo. Até hoje o que mais faço é curry, com as especiarias que estiverem na minha frente — minhas favoritas são zimbro e cardamomo. O envolvimento com gastronomia aconteceu de modo natural, a vida foi me levando, trabalhei com isso na Inglaterra e no Canadá. Quando voltei ao Brasil, fiz um curso no Senac de cozinheiro internacional..
Em seguida, em 2006, você começou a Gastromotiva.
No Jaguaré, conheci uma organização chamada Artemisia, e comecei a entender o mundo dos negócios sociais. Quando terminei a primeira turma desse projeto do Jaguaré, falei: agora estou preparado para fazer um negócio social e transformar o meu catering em um catering que treina pessoas e incuba pequenos negócios de comunidades. Na verdade, acabei fazendo isso porque dentro do Jaguaré tinha uma menina, a Urideia [Andrade], que foi convidada por um contato meu para falar sobre a vida dela na ONU, no Dia Internacional da Juventude. É uma menina que passou por muita coisa. Naqueles dias em Nova York, ela entendeu o poder que tinha de transformar a própria vida. Juntos, criamos a Gastromotiva. Eu, ela e o Ernani Gouvea [gestor educacional da organização].
Quais eram os objetivos?
Não sei o que é morar em uma favela, nunca passei fome. Então, acredito em montar os projetos com quem é de lá, porque essas pessoas têm a sabedoria, sabem do que precisam. Meu primeiro projeto no Jaguaré foi super top-down. Achei que sabia tudo: vou oferecer estágio para todo mundo, eles vão trabalhar… E entendi que não era assim, que você tem que tentar puxar, através da gastronomia, o melhor deles, para que se sintam empoderados e possam resolver aonde querem levar seus destinos. A Gastromotiva surgiu para isso, para descobrir esse leque de oportunidades que tem uma comunidade de baixa renda ou grupos que sofrem de preconceito. Para ver onde está o lado positivo e trazer luz para eles, para se sentirem dignos, fortes, com o poder de escolha.
Não adianta você chegar apresentando as soluções que são só suas…
Não. Tanto que a gente tem quatro projetos no Brasil, três no México, e eles são muito diferentes. O DNA da Gastromotiva em São Paulo é totalmente diferente da Gastromotiva do Rio, de Salvador, de Curitiba ou do México. Em comum há essa metodologia de que todos eles vão se empoderando, mas o resultado é muito diferente em cada cidade. Outra coisa que permeia é um olhar de gratidão pela oportunidade. Essa é das coisas mais importantes, que eles sejam gratos pelo que têm até agora e entendam que existem outras pessoas também em situações ruins ou piores que as deles. Então a gente vira uma cadeia. Está ali por um mesmo objetivo, que é criar essas pontes que muitas vezes não se encontram, não dialogam, não sabem o que são; e fazer com que uma apoie a outra, uma ajude na oportunidade e a outra quebre um pouco do preconceito ou da ignorância… E a comida é isso. Ela junta, a gente compartilha a mesma mesa.               Por:  (trechos)  OVNE

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