Pesquisadores usaram tecnologia para comparar Girassóis de Van Gogh

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AMSTERDÃ – No verão de 1888, Vicent Van Gogh convidou o pintor Paul Gauguin  seu amigo, a visitá-lo em Arles, França, e ficar com ele na casa que pretendia transformar em um retiro de artistas. Quando Gauguin chegou, no outono, encontrou seu quarto decorado com obras de Van Gogh, incluindo um quadro de girassóis num vaso de cerâmica com o fundo amarelo.
A visita de dois meses terminou de maneira desastrosa. Os dois artistas tiveram uma briga explosiva e Van Gogh cortou sua orelha, sofreu um colapso nervoso e acabou no hospital. Gauguin foi para Paris.
Algumas semanas depois Gauguin escreveu para Van Gogh pedindo a pintura dos girassóis, elogiando-a como “uma página perfeita de um estilo ‘Vincent’ essencial”.
Compreensivelmente, Van Gogh relutou em ceder o que achava que poderia ser sua obra mais completa e assim decidiu pintar outra versão dos girassóis amarelos para trocá-la por uma obra de Gauguin. Ele terminou seu quadro em janeiro de 1889, mas nunca o enviou.
Essas duas pinturas, ambas intituladas Girassóis, geralmente são aceitas com as melhores das várias representações da flor que Van Gogh criou em 1888 e 1889. A primeira faz parte da coleção da National Gallery em Londres, e a segunda está no Museu Van Gogh em Amsterdã.
Van Gogh referia-se à sua obra como uma “repetição” da pintura de Londres. Mas historiadores e curadores de arte sempre se mostraram curiosos para saber o quão “diferente” ela era da primeira. Deveria ser considerada uma cópia, um trabalho independente ou algo intermediário?
Um extenso projeto de pesquisa realizado nos últimos três anos por especialistas da National Gallery e do Museu Van Gogh concluiu que a segunda pintura “não é uma cópia exata do exemplo original”, disse Ella Hendriks, professora de conservação e restauração na universidade de Amsterdã, que liderou a pesquisa.
“Embora a paleta básica seja a mesma, cores diferentes foram usadas, há diferenças na textura da pintura e o trabalho com pincéis também é distinto.”
Embora a versão que está em Londres e a de Amsterdã sejam muito frágeis e não podem ser transportadas em viagens, foi possível fazer uma comparação virtual das duas obras, usando novas tecnologias de digitalização.
Em vez de retirar os quadros das galerias para uma análise física, ou tirar amostras invasivas da pintura, os pesquisadores fizeram escaneamento digital no museu, mapeando as camadas de tinta, o trabalho com o pincel e os pigmentos sem tocar na obra. E compararam os dados obtidos de cada quadro.
O Museu Van Gogh deu essa informação em entrevista ao The New York Times antes da abertura da exposição de verão do museu, Van Gogh and the Sunflowers, em 21 de junho. Com o quadro dos girassóis, outras 20 obras da coleção permanente do museu, a maioria com pinturas de flores, estão à mostra, com outras duas emprestadas.
Nienke Bakker, curadora da exposição, disse que a pesquisa ajudou a compreender algo mais sobre a relação de Van Gogh com Gauguin. Quando Gauguin escreveu ao amigo elogiando e pedindo a pintura, Van Gogh ficou lisonjeado, mas não quis “cedê-la”, disse ela.
“Se Gauguin não a tivesse pedido, ninguém sabe se outras versões teriam sido feitas.” Van Gogh pintou 11 quadros em que os girassóis são o principal tema e outras em que eles têm um papel importante, afirmou Bakker. Ele pintou 4 em Paris e 7 em Arles. Dos 11, 2 desapareceram: um foi destruído em incêndio na 2.ª Guerra e o outro pertence a uma coleção privada que não faz empréstimos para museus.
Há cinco pinturas em museus públicos que se acredita que fazem parte da série Girassóis, e todas basicamente têm o mesmo buquê no mesmo vaso de cerâmica, contrastando com um fundo azul pálido ou amarelo. Além das versões que estão em Londres e Amsterdã, as outras três estão em Munique, Tóquio e Filadélfia.
As obras estão muito frágeis. A National Gallery emprestou o quadro apenas três vezes: ao Museu Van Gogh em 2002 e 2013, e para a exposição de obras de Van Gogh na Tate Britain, que termina em 11 de agosto.
O Museu Van Gogh decidiu não mais emprestar sua versão do quadro para que mudanças já observadas em microscópio não se tornem visíveis, disse Bakker. “É impossível reunir todas essas pinturas novamente. É triste, mas por outro lado, temos de preservá-las para as futuras gerações.” / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Fonte ; Nina Siegal  , The New York Times