“Eu acho que o orgânico é um fato que nós vamos ter que aprender a trazer para as nossas vidas. Na minha, os orgânicos são um caminho sem volta”.
Adepto dos orgânicos e incentivador da biodiversidade de ingredientes brasileiros, o chef Alex Atala é um de muitos que estão usando a gastronomia para chamar atenção para problemas mais sérios, como a falta de alimentos saudáveis para alimentar a população e o desperdício de alimentos.
Atualmente, apenas 15% dos brasileiros consomem algum alimento ou bebida orgânico no mês. Destes, 50% dos consumidores pertence à Classe C, 32% das classes A e B e 18% das classes D e E, segundo o Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis).
Apesar da busca por produtos saudáveis e naturais, o custo elevado e a dificuldade de acesso são os principais obstáculos para expandir o consumo de orgânicos no Brasil.
Cerca de 84% dos entrevistados afirmaram que gostariam de consumir mais produtos orgânicos do que consomem hoje, mas 62% não compram pela falta de preço acessível. Para Atala, isso reflete a desconexão do homem com o valor do alimento.
“Infelizmente, hoje, se você tiver um produtor orgânico e você quiser saber se ele quer ir para uma feira convencional, ele não quer ir. Porque o consumidor olha para o lado e fala “por que o seu custa mais caro, se na outra barraca custa mais barato?”, as pessoas não percebem o valor do orgânico”.
E prossegue:“Então como podemos exemplificar esse valor? Se eu escolho uma camiseta legal para usar, uma calça legal, se eu vou em um barbeiro ou escolho um shampoo para o meu cabelo, se eu quero por a melhor gasolina no meu carro, como eu posso não escolher o melhor para colocar dentro de mim?”, questiona.
“Devemos lembrar, antes de mais nada, que somos habitantes desse planeta. Se a gente se desapegar do valor do dinheiro e voltar a dar valor ao alimento, a gente resolve isso rápido. As pessoas têm que saber que comida boa não é de caixinha, seja ela onde for, custe o que custar”.
Em busca de soluções para os desafios enfrentados pela cadeia para alimentar os 7 bilhões de pessoas, que hoje habitam o planeta, e mais os 3 bilhões de pessoas, que estarão aqui em 2050, Alex Atala desenvolveu o FRUTO.
Organizado em parceria com Felipe Ribenboim, o Fruto reuniu mais de 30 especialistas em alimentação, sustentabilidade, meio ambiente e agricultura, em São Paulo, para descobrir alternativas para o acesso de todos a uma comida boa e justa.
“Para a humanidade nas próximas décadas, o desafio é alimentar. Não existe uma verdade, uma resposta, precisamos construí-la de acordo com a cultura e o lugar do mundo que estamos falando. Mas para isso existir, é preciso ter espaço para diálogo e modelos inspiracionais”, afirma.
“Ao longo da minha vida, eu conheci pessoas que não comungam dos meus valores e conheci empresas e pessoas que tem os mesmos valores que os meus, mas que acham que a solução do caminho que a gente propõe não é o certo. O nosso maior sonho é convidar essas pessoas para que todos juntos façamos um evento para encontrar uma solução. É assim que a gente constrói o futuro”.
Fonte ; Luciana Almeida / ONBrasil