Em 2015, quando a galeria Nara Roesler decidiu iniciar as operações em Nova York, a maioria das galerias tinha registrado queda de 50% nas vendas nacionais. Cinco anos depois, diante de uma das maiores crises humanitárias do mundo, a Nara Roesler deixa o espaço que comandava no terceiro andar de um edifício no Upper East Side e se muda para um local quatro vezes maior, no nível da rua, no Chelsea, onde será vizinha de gigantes como Gagosian, David Zwirner e Lisson. A decisão, segundo Daniel Roesler, vem em um momento em que a galeria já se encontra recuperada dos efeitos da pandemia, com um balanço do ano, inclusive, melhor que o de 2019. E a expansão, nesse sentido, seria um passo estratégico em um momento em que a previsão aponta para negócios cada vez mais locais e menos globalizados. “Nova York é uma cidade que tem uma infraestrutura cultural maravilhosa, onde estão os principais museus do mundo, grandes colecionadores, cabeças pensantes e críticos. Então tudo isso se juntou no processo de decisão para que a gente seguisse com essa aposta”, diz Roesler.
Expandir neste momento é uma boa estratégia?
A gente acredita que a ideia de mostrar obras de arte no espaço físico vai continuar sendo importante, que essa crise vai passar, mas que as feiras e as viagens podem sofrer, o que leva à possibilidade de que as galerias e os mercados fiquem mais locais. Com uma crise da globalização, Nova York é um dos melhores lugares onde poderíamos ser locais. É uma cidade que tem uma infraestrutura cultural maravilhosa, onde estão os principais museus do mundo, grandes colecionadores, cabeças pensantes e críticos. Então tudo isso se juntou no processo de decisão para que a gente seguisse com essa aposta. É uma aposta, pode ser que a crise seja mais séria do que já tem sido e que a transformação realmente seja mais profunda, mas a gente resolveu acreditar que devia seguir em frente.
Há cinco anos, vocês declararam que, se fizessem o dever de casa certinho, tinham chance de chegar a ter uma operação americana maior do que a brasileira. Isso se concretizou?
A operação brasileira ainda é maior, mas a americana está crescendo a cada dia. Posso dizer que os Estados Unidos representam hoje mais ou menos 25% do negócio. Ainda temos muito que fazer aqui, muito que crescer no sentido de apresentar os nossos artistas para esse mercado.
Naquele período, o percentual de vendas para estrangeiros era de 20 a 25% e vocês planejavam dobrá-lo. O percentual hoje, então, continua o mesmo?
A proporção continua parecida. A galeria cresceu muito nesses últimos cinco anos, mas nos dois países de forma proporcional. Em 2015, nós abrimos em Nova York um escritório e, depois, mudamos para um espaço no terceiro andar [no Upper East Side] com programa de exposições, o que deu uma boa impulsionada. Nosso próximo passo agora é uma galeria na rua, no Chelsea, quatro vezes maior, onde a gente vai poder experimentar novas possibilidades.
Poderia comentar também a escolha da Amelia Toledo para inaugurar essa nova fase da galeria?
Aqui nos Estados Unidos, Amelia Toledo não é tão conhecida, mas ela participou de uma exposição muito importante em 2018, a Radical Women [Latin American Art, 1960–1985]. Foi uma mostra que abriu os olhos do mundo para essas artistas latino-americanas importantes e que tinham muito a dizer. Então acho que existe um interesse no trabalho dela e a gente está preparado para mostrá-lo da melhor forma possível. Estamos ainda na dependência da situação da Covid-19, mas imaginando que, depois de fevereiro, já seja possível uma abertura com um público maior. Por conta disso, chegamos à ideia de uma mostra anterior a essa, para janeiro. Será um projeto curatorial que se desdobrará ao longo de cinco semanas e que será mais propício a pequenos encontros. O Luis Pérez-Oramas está selecionando um grupo de artistas e vai mostrar alguns como solo – Antonio Dias e Tomie Ohtake – e outros em diálogo. Então teremos diálogos entre Paul Ramirez Jonas e Berna Reale, que tem uma aproximação pela questão política, justiça social etc; entre Milton Machado e Artur Lescher; e Cristina Canale, Maria Klabin e Karin Lambrecht.
Qual o investimento da galeria no on-line, que deve influenciar daqui para a frente não só os negócios e o mercado, como os hábitos comportamentais?
A gente reorganizou as operações para dar mais atenção ao on-line, no sentido de cada projeto ter um desenvolvimento de conteúdo virtual, seja um viewing room, uma conversa no Youtube ou vídeo que conte um pouco da história da exposição. Essa necessidade de desenvolvimento de conteúdo no formato digital realmente cresceu muito. Não sei dizer os números para indicar quanto foi para cá, quanto foi para lá, mas o nosso trabalho está focado também no on-line e nós temos falado sobre estratégias de comunicação digital, que são novas também para a gente. Na pandemia começamos alguns projetos, como o programa Ping Pong no Youtube, um podcast que pode ser acessado no Spotify [intitulado A Flauta Seca] e até playlists dos artistas, que são formas de aproximar o público do pensamento deles. Só que a gente ainda acredita muito no poder da exposição real, então a estamos trabalhando o digital mais como registro de projetos que estão acontecendo nos nossos espaços, distribuindo pra quem não teve oportunidade de ver presencialmente. A base continua sendo o mundo real.
Qual é a estimativa de crescimento em NY a partir do Chelsea?
Queremos esse novo espaço integrado à comunidade local de Nova York. Estamos numa rua com ótimas galerias – que eu sempre acompanhei, visitando nas feiras ou quando estava na cidade e agora estamos nessa mesma comunidade –, com a vantagem de ter toda a operação no Brasil e todo o apoio que a gente tem no país, construído em mais de 30 anos de história. (trechos : Terra)
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