Entrevista: Rubem Ludolf “na geometria, a coisa está mais despida de variações “

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Rubem Ludolf foi autodidata em seu início artístico, mais ligado à figuração. Porém, após frequentar as aulas de Ivan Serpa no Curso Livre de Pintura do MAM-RJ e de ser confrontado pela abstração na 1ª Bienal de São Paulo, enveredou pela geometria e pelas cores. “Serpa me mostrou o caminho, abreviou minha busca”, admite.
Como vê o reconhecimento e o enaltecimento hoje de artistas da sua geração, como Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape e Ivan Serpa? Como encara essa mudança de paradigma, de ser vanguarda no passado e retaguarda no presente?
Cada vez mais a pintura construtiva vem se afirmando, não só no Brasil como no mundo. Temos artistas construtivos de primeira linha. Era um grupo muito coeso. Em 1956, montamos uma exposição em São Paulo (que chegou ao Rio em 1957), chamada “1ª Exposição Nacional de Arte Concreta”, que reunia cariocas e paulistas e ia além da pintura, tinha a participação de poetas como Décio Pignatari e Ferreira Gullar. Foi um movimento muito abrangente, muito avançado para a época, em momento em que a predominância era dos figutativos como Portinari e Di Cavalcanti. De repente, aparece uma turma fazendo pintura geométrica _que muitos achavam uma pintura decorativa.
Era, também, uma geração que quase não vendia o seu trabalho. Eu não tinha ilusões, permaneci no meu emprego por 30 anos. Tinha um sustento, então não precisava pintar uma arte comercial apenas para sobreviver. Sempre pintei o que quis. Se por um lado é difícil, é também gratificante, pois sempre visei o outro, aquele que irá se deparar com a obra. Assim, deixei de ser um artista maldito, mas nunca de pintar aquilo que acredito. Pelo menos não precisei chegar ao ponto de cortar a própria orelha, como Van Gogh (ri).
Como se usa a geometria para recriar artisticamente sua visão de mundo e criar oposições no plano, com essa dialética de formas e cores?
Para mim foi um modo de resolver o espaço do quadro, aquele quadrado ou aquele retângulo, que começava pela forma e que depois eu coloria. Era aquela divisão, algo muito pessoal, que eu mantenho até hoje. Por exemplo, se você pegar um quadrado e pintar de vermelho, e ao lado colocar um fundo preto, esse vermelho vai ficar claro. Se for num fundo branco, vai reagir de outra forma. Isso me atrai, a possibilidade de fazer com que a cor mude sendo a mesma. Isso eu tenho conseguido através da pintura.
Curioso você mencionar dialética, porque eu participei da Bienal de Paris em 1961, a chamada “Bienal do Artista Jovem”, que já não existe mais, com um quadro que eu mantenho até hoje, que chamo de “Diálogo”. Me recuso a vendê-lo. São duas formas que se encontram num ponto comum. Associei isso a uma conversa e penso que a pintura deve contar uma história. Uma cor que se desenvolve, que vai num degradê até virar outra cor. Criar contrapontos entre uma e outra. Tudo que jogo no quadro tem sua razão de ser. Sou perfeccionista, sou introvertido. É algo que me ajuda tanto quanto pode atrapalhar. E acho que o geométrico é mais penoso de realizar. Mas é ótimo quando você vê tudo no seu devido lugar e sua arte saindo do ateliê para as galerias, para o contato com o público.
Ao se deparar com algumas de suas obras, se tem a impressão que são também labirintos. É proposital?
É labiríntico sim. Uma vez, no início de carreira, quando mostrei trabalhos feitos com guachê, o Rubem Braga foi visitar a mostra. Quando fomos apresentados, o cronista, de brincadeira, perguntou se eu tinha um remédio de dor de cabeça para lhe dar, pois dizia que a minha pintura mexia muito com o olho. Muito tempo depois, em 2003, na retrospectiva que fiz de minha carreira, um jornal usou o título “o hermitão que quer pertubar nosso olhar”. E eu quero perturbar mesmo. Às vezes consigo. É justamente esse olhar que procura no quadro alguma coisa. Minha pintura não é de impacto, como a do Manabu Mabe, requer que se fique procurando relações. Acredito que, na geometria, a coisa está mais despida de variações. (por: Augusto Olivani / Uol)

Obras de Rubem Ludolf, Ivan Serpa, voce encontra na TOPPO ARTES.

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