Na Escola de Arquitetura e Belas Artes, cursa escultura com o então artista figurativo Franz Weissmann, que se tornaria mais tarde seu colega no movimento neoconcreto. Forma-se em direito, trabalha como advogado por pouco tempo, e assume cargos públicos, que logo abandona. No fim dos anos de 1940, os desenhos de paisagens de Ouro Preto tendem para a abstração assim como a escultura.
Quando começou a desenhar?
Na escola. Fazia capas de convites e de trabalhos. Era bom aluno. Gostava de matemática, de ciências.
Gostando de ciências e artes, por que estudou direito?
Desde menininho, desde que me entendo por gente, houve advogados e juristas em casa, conversando com meu pai, que escreveu vários livros sobre leis. Eu achava que não havia coisa mais fabulosa no mundo do que o direito. Por isso fiz concurso e estudei direito. Fui bom aluno: tinha gosto pela parte teórica e filosófica, pelo direito processual, achava aquilo bonito. Também achava bonitos a pintura e o desenho. Gostava de ver livros de arte. Queria entender como eram feitos os desenhos e pinturas. Tinha curiosidade em saber como se chegava à beleza. Quando estava no terceiro ano de direito, fui estudar com o Guignard, na Escola de Artes que ele criou em Belo Horizonte. Lá também estudei escultura figurativa com Franz Weissmann.
Guignard era bom professor?
Ele não era de falar muito. Falava: “Pintar é assim” e pintava. Não ensinava nada de técnica e teoria, o que era ótimo. Teoria é um perigo: ela pode matar a arte. O sujeito passa a pintar para ilustrar a teoria.
Mas se o sujeito sabe, digamos, perspectiva, ele não pode pintar uma montanha melhor?
Não sei. Aí é que está o perigo. Ele pode pintar uma montanha mais bem feita, mas talvez menos bela. Não há nenhuma teoria -nenhum raciocínio- que alcance o que o sensível alcança. Nesse sentido, o Guignard foi um bom professor. Além do mais, ele me ensinou a pintar com lápis duro, o 6H, que sulca o papel e não permite correções. Riscou, está riscado. Assim, aprendi a usar o máximo de precisão e de sensibilidade. Tinha de pintar o sensível, mas o sensível certo, correto: o melhor golpe de espada é no coração, e ele deve ser feito sem um cálculo prévio.
Como era o professor Franz Weissmann?
Ele ensinava a modelar. Fiz bustos, mãos, pés, torsos. Lentamente fui passando para a escultura abstrata: fazia obras com arames, com gesso, trabalhando com barbantes. Weissmann era um bom sujeito, mas muito fechado, de convívio não muito fácil.
Como foi sua convivência com Volpi?
Eu ia a São Paulo e ficava na casa de uma tia, no Cambuci. Volpi morava em frente. Gostava demais dele. Fazia coisas figurativas. Eram muito bonitas. Ele não falava muito. Que me lembre, nunca conversamos sobre arte, teoria, crítica, essas coisas.
Qual o papel de Max Bill na sua arte?
Um papel importante. Vi as conferências e a exposição dele em 1950. Discordei das posições artísticas que ele representava, as da Escola de Ulm. Vi depois uma escultura dele que me impressionou muito: uma esfera de latão com o centro vazado. Fiz uma escultura em chapa de cobre meio baseada na de Max Bill: dividida em três partes e dobrada pelas diagonais, fechada em triângulos. Ela foi selecionada para a Bienal de São Paulo de 1953. Foi quando comecei a achar o meu caminho. Comecei a achar que podia fazer alguma coisa em escultura. Mas só em 1968, quando ganhei as bolsas para o exterior, o prêmio Guggenheim, tive certeza de que era escultor. Tinha quase 50 anos.
Com quem se dava melhor no grupo neoconcreto?
Com o Ferreira Gullar. Achava ele sério, um sujeito direito, bom. Gostava também do Mario Pedrosa. Mas ele era autoritário. Achava que as coisas tinham de ser do jeito dele. Gostava muito do Reynaldo Jardim, mas ele não tinha o talento e a competência do Gullar como poeta. A Lygia Clark também era meio levinha, no sentido intelectual.
Acredita em inspiração?
Não acredito, não. Se me dão um monte de telas, vou pintando até elas acabarem. A qualquer hora do dia ou da noite, em qualquer dia. Se tenho de pagar uma dívida de R$ 100 mil, e alguém quiser comprar meus quadros, pinto mais rápido ainda.
Sua arte é brasileira?
É. Ao fazer a minha arte, não penso em nada que não seja daqui.
Fonte ; Folha de SPaulo / Coluna Mais