“A minha paixão e a minha verdadeira vocação encontraram eco na pintura a óleo. A maleabilidade da pintura a óleo me dá a possibilidade de “desenhar” com o pincel aquilo que foi pensado como imagem. Ver a tela tomando vida pouco a pouco, me traz muita alegria. Se não fosse assim, como conviver com mais de dez horas diárias de pintura?
A obra tem início bem antes do momento que “deito” o pincel na tela, que é preparada com cambraia de linho ou linho puro, onde passo várias camadas de gesso que depois quase somem ao serem lixadas com vigor, transformando a superfície desta tela num mármore liso, pronto para receber qualquer sugestão de textura.
As tintas também são preparadas por mim a partir das industrializadas Rembrandt ou Blockx, acrescidas de aglutinantes, criando a minha própria gama de cores – aliás utilizo uma variação da técnica flamenga.
A ideia do tema para o original surge no que eu chamo de fase “emocional”. Pode vir de um livro que li, de uma viagem que fiz, uma peça de teatro – algo que me toque e emocione.
Para cada tema pensado, levo dias estudando a ideia, compondo, pesquisando imagens, cores, tirando fotos. Ao final de mais ou menos quatro dias, o desenho está pronto para ser passado à tela, junto com o estudo das cores – cada objeto já tem a sua cor definida anteriormente. Nesta fase o meu quadro é bem “cerebral”.
Entre a fase emocional, cerebral e o tempo que levo para terminar um original, vão-se mais de cinquenta dias, às vezes até mais. Fazendo-se uma conta básica, se não tirar férias, num ano conseguiria criar 6 a 8 obras originais, muito pouco para quem quer ter o seu trabalho cada vez mais conhecido e divulgado.
Este “dilema” surgiu na minha vida profissional há muitos anos atrás. Eu me vi confrontando uma realidade muito boa e muito ruim ao mesmo tempo. Se por um lado havia conseguido alcançar uma boa valorização devido ao fato de ter poucos originais “circulando” pelo meio, ao mesmo tempo tinha que resolver o handicap de fazer tão poucos originais por ano e ter dificuldade em divulgar o meu trabalho através de exposições.
Um marchand chegou a me aconselhar: faça quadros mais rápidos e simples. Eu optei pela paixão aos originais e por toda satisfação e alegria que me traz ao criá-los, mas também resolvi divulgar as minhas imagens através da multiplicidade.
No meio deste grande dilema, participei da minha primeira feira de arte no exterior em 1991, em New York. Ela me abriu horizontes para as técnicas de reprodução. Primeiramente comecei fazendo serigrafias e, em 1998, as impressões na técnica giclée, novo método de reprodução que usa uma impressora de última geração que jateia cerca de 4 milhões de gotículas de tinta, tendo como base as minhas obras originais; me trouxe abertura para outros países e uma divulgação maior, que era exatamente o que eu buscava e dificilmente conseguiria somente com os originais.
Anos mais tarde, nesta mesma feira, fui despertada para o licensing de imagens. Entrei nesta área com um direcionamento muito específico, com um foco seletivo – fazer licenciamentos que realmente agreguem valor à minha carreira e ao meu original.
Resumindo, mantenho, hoje, os meus originais no seu próprio ritmo, mas através das gravuras e do licenciamento, consigo chegar à classe média, que não tem o mesmo poder de compra de um colecionador de arte, mas que mesmo assim é de fundamental importância na minha carreira”. (por; Sonia Menna Barreto – Museu S.M.Barreto)

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