Desenho: transformações na história da arte

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Marcar, representar, ordenar, arranjar. Estes termos são relacionados à origem das palavras “desenho” e “designar”, do latim designare. As técnicas de desenho são fundamentais em todas as histórias da arte, sejam estas aplicadas a uma rocha, uma parede, um papel, um software ou qualquer outro suporte, e ganham diferentes abordagens de acordo com as demandas e intenções de cada contexto.
Se considerarmos a arte rupestre como ponto de partida, entenderemos o desenho enquanto uma ferramenta da humanidade desde seus primórdios, sendo um dos seus primeiros registros e meios de comunicação.Todo desenho também parte de um desejo, uma intenção, e a relação de quem o produz com o seu meio é determinante para essa produção visual.
No Alto Renascimento italiano, o aprofundamento das técnicas de desenho foi vital para artistas que desenvolviam projetos visuais ambiciosos. Etapa essencial de cada projeto, o desenho registrava com impressionante refinamento o mundo percebido pelo olhar artístico, que naquele momento era esquematizado em uma relação extremamente racional, matemática e, em especial, científica. Antes de iniciar qualquer pintura ou invenção de engenharia, arquitetura, e tantos outros campos de conhecimento, Leonardo da Vinci, por exemplo, produzia desenhos acompanhados de anotações e cálculos, eram seus estudos prévios codificados em milhares de páginas. O dia do desenhista é comemorado no dia 15 de abril em homenagem a Da Vinci, devido a uma iniciativa da Associação Internacional das Artes (IAA) em 2011.
Algumas influências deixadas pelos ideais renascentistas, como o olhar científico, por exemplo, podem ser notadas em produções contemporâneas, como na obra de Amelia Brandelli, artista do Rio Grande do Sul que produz desenhos monocromáticos extremamente detalhados. Esses ecos, como vemos, são ressignificados em toda composição da representação.
A espontaneidade e agilidade das técnicas de desenho de observação proporcionaram produções capazes de retratar momentos particulares, tornando-se verdadeiros documentos, cristalizando visualmente contextos da história. Um exemplo é a obra de Henri de Toulouse-Lautrec, artista pós-impressionista que desenhou e pintou a boemia parisiense no final do século XIX, ambiente no qual estava imerso. Parte de seus trabalhos mais famosos vem das ilustrações que o artista produzia para cartazes de cabarés, incluindo o famoso Moulin Rouge.
Quando o modernismo evidenciou o plano e a superfície, rompendo com as ilusões de perspectiva, o desenho ampliou suas possibilidades e adquiriu expressões mais objetivas e conceituais. As transformações da arte européia no final do século XIX, que culminaram nas famosas vanguardas do século XX, promoveram uma série de revoluções nas artes visuais, e isso estava explícito nos desenhos. O corpo humano idealizado na arte clássica e renascentista é desconstruído e fragmentado em traços ligeiros, as formas geométricas são tomadas como objetos de estudo, estruturando novas composições racionais e/ou orgânicas.
Na arte contemporânea, o desenho – assim como outras mídias – foi levado à experimentação, ao questionamento: uma reflexão de sua própria produção e seus valores. Além das pesquisas relacionadas à sua materialidade, essa mídia encontra infinitas possibilidades a partir de sua junção com outras técnicas. Na contemporaneidade o desenho é expandido, por diferentes motivos, mas assim como na arte rupestre, volta a se relacionar diretamente com o espaço, sendo base para instalações e projetos multimídias. Um exemplo é a artista brasileira Regina Silveira, que explora a potência do desenho expandido no espaço há décadas.
O desenvolvimento de novos materiais e suportes para o desenho fez com que a cada período essa técnica se tornasse mais acessível, até chegarmos em uma época na qual o desenho sobre papel é a base das aulas de artes nas escolas. Atualmente os estudos de artistas em desenho ganham destaque em exposições, pela síntese de ideias que apresentam no desenvolvimento de outras obras. O desenho é a prova mais sutil de que nossos gestos são capazes de reorganizar e reformular nossas perspectivas, é pensamento materializado, de uma forma simples à composição mais complexa, seja a base para um projeto ou entendido enquanto um trabalho final. (por: Artsoul) 

 

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