Por que tão pouca gente sorri nas obras de arte?

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Os sorrisos nem sempre foram tão apreciados ao longo da história. (…) Não importa a data, o estilo ou a procedência, a maioria dos retratados adota um semblante sereno e sóbrio, quase distante. Por que motivos quase não encontramos sorrisos nos museus?
Vários críticos analisaram essa situação e encontraram explicações para todos os gostos. Por exemplo, é preciso levar em conta que posar para um retrato a óleo leva horas ou mesmo dias completos, em várias sessões exaustivas. Manter um sorriso, portanto, é praticamente impossível, porque é muito difícil fingir a espontaneidade que geralmente acompanha essa expressão. Pois, como aponta o artista e escritor Nicholas Jeeves em um artigo sobre o assunto, um sorriso se parece bastante com um rubor, na medida em que é uma reação impossível de manter no tempo.
Por outro lado, a consideração cultural acerca dos sorrisos foi variando ao longo da história. No século XVII, por exemplo, os aristocratas, históricos mecenas da arte, associavam os sorrisos amplos, desses que mostram os dentes, às classes sociais mais baixas, aos bufões, aos atores e aos bêbados. Os retratos que mostravam amplos sorrisos não correspondiam, portanto, à solenidade perseguida pela maioria das personalidades que podiam bancar uma obra desse tipo.
O interesse dos artistas do barroco holandês por imortalizar o cotidiano também os levou frequentemente a escolher como protagonistas personagens das esferas mais baixas da sociedade. Alguns historiadores, como Colin Jones, encontram a explicação para esse rechaço na falta de uma higiene bucal eficiente até o século XVIII, razão pela qual mostrar a dentição era considerado pouco decoroso. Com os avanços nesse âmbito, expor os dentes passou a ser uma nova ferramenta para expressar a sensibilidade. Assim, para Jones, o Autorretrato de Marie Louise Élisabeth Vigée-Lebrun com sua filha, de 1786, é extremamente revolucionário: porque é um dos primeiros que deixam escapar um (ligeiríssimo) sorriso.
Efetivamente, Mona Lisa (ou La Gioconda), que Leonardo da Vinci pintou no começo do século XVI, começou a atrair cada vez mais atenções durante o século XIX, até que acabou virando o sorriso (embora também discreto) mais chamativo da arte. Por que a protagonista do retrato aparece sorrindo? A resposta é um enigma, como quase tudo que cerca essa obra. Inclusive com o passar dos anos continuaram surgindo novas teorias ao seu redor. Em 2018, um cientista chegou a dizer que uma doença na tireoide obrigava a retratada a manter aquela expressão, embora muitos outros estudiosos não estivessem de acordo.
No século XX, os sorrisos foram se tornando um pouco mais comuns na arte. As melhoras na fotografia e a aparição do cinema fomentaram seu uso como uma forma de revelar as emoções internas dos retratados, o que levou alguns artistas a se lançarem a explorar seu potencial expressivo. (…) Com a progressiva democratização da fotografia e o crescimento da publicidade, começaram a se multiplicar imagens de pessoas sorridentes na comunicação de massa: os sorrisos, como amostra de felicidade, se tornaram um gancho publicitário.
Nos últimos anos, as redes sociais parecem ter levado esta associação ainda mais longe. Hoje em dia compartilhamos nossas fotos sem descanso e sorrimos a não mais poder, já que transformamos o sorriso em uma nova maneira de socializar e de exibir nossa felicidade e autoconfiança. Embora, conforme já pareciam saber nossos antepassados, a felicidade nem sempre vem acompanhada de um sorriso. ( por: Clara Freyre / El Pais) 

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