A oficina do SESC-Tijuca, publicou três livros de entrevistas denominado “Gravura brasileira hoje” com  depoimentos”,  onde foram colhidos o testemunho dos mais importantes artistas gravadores do país. Confira alguns  trechos da conversa com  Fayga Ostrower.
O que acha do ensino de gravura? A seu ver, ensina-se arte?
Arte não se ensina, é impossível ensinar. Assim como não se ensina ninguém a ser criativo, a ser artista. Isso é impossível. O que se pode fazer é incentivar que as pessoas eduquem a sua sensibilidade, porque isso cada um de nós tem, cada um tem um potencial de sensibilidade. Você pode dar condições para a pessoa educar a sua sensibilidade. Se ela vai ser artista ou não, só a vida vai dizer.
Na minha opinião, nem a Escola de Belas Artes é o lugar para aprendermos arte. Nela, aprendemos a aprender. Se vamos ser artistas, a vida vai dizer. Poucos se tornam artistas.
Temos de tentar ajudar as pessoas a recuperarem dentro de si um potencial que elas têm, apesar do massacre da desinformação que grassa em nossos tempos. É isso o que podemos fazer. E olhe que este não é um problema só dos países capitalistas. Tenho notícia de não-cultivo da sensibilidade também em países socialistas! Mas a sensibilidade pode ser educada, trata-se, em última distância, da nossa sobrevivência espiritual.
Infelizmente, nossa sociedade não tem o menor interesse em que as pessoas cresçam e se desenvolvam. E, voltando ao tema do ensino da arte, por mais brilhante que o jovem seja ao sair da Escola de Belas Artes, ele ainda não é o Picasso, ainda tem que crescer, tem de enfrentar a vida e a sua falta de atalhos. A pessoa não pode atalhar: tem que amar, que sofrer, tem que lutar.
Educar a sensibilidade equivale a favorecer a conscientização das pessoas. Os artistas, os críticos, as pessoas sensíveis, que se alimentam da arte, os espectadores, nós todos que vamos a museus, que vamos a concertos, que vamos a teatro, nós todos que fruímos das obras de artes, devíamos nos tornais mais conscientes. É o único caminho.
A televisão em si é um meio fantástico, cheio de possibilidades! Quando serão utilizadas num sentido positivo? Penso que se poderia fazer programas de educação que não fossem desinteressantes, que, ao contrário, aguçassem as pessoas, fizessem-nas crescer, principalmente os jovens e as crianças.
É preciso então sensibilizar as crianças?
Houve uma iniciativa maravilhosa: a de Augusto Rodrigues, com as escolinhas de arte por ele idealizadas. Eram escolas que contribuíram também para a formação de professores. Mas infelizmente, em geral, não há continuidade no trabalho iniciado ali.
Na minha visão, também incluo a educação dos adultos como prioridade. Tem-se de educar o adulto para educar a criança. Temos de educar a sensibilidade dos professores.
No processo de ensino, a sensibilização viria com os adultos em primeiro lugar. Temos de ser capazes de sensibilizar a pessoa para a matemática, mesmo falando de artes plásticas. A sensibilização deve se dar pela própria linguagem que se está usando e os valores que estão nela. O professor deveria ser um educador, sempre. E não é. Ele é apenas professor, não tem uma visão de educação como um processo dinâmico, no qual ele apenas vai iniciar a pessoa, que depois vai se educando a vida inteira. Se você bloqueia já na raiz, na escola, dando apenas informações técnicas e mais nada, evidentemente está deseducando.
Enfim, este é um problema muito complexo. Vai ver até o próprio Ministério da Educação, com todos os seus programas, também deseduca.
Que valor você atribui  ao trabalho dos críticos, dos historiadores? O que isso significa para a artista, para o mundo da arte?
Eu diria que os críticos, ou os historiadores de arte deveriam ser considerados irmãos em armas. Marchamos juntos, em conjunto. O grande problema da crítica, que é também o problema da arte, é que estamos vivendo uma crise de valores. Uma crise cultural, e não adianta dizer: “todos os momentos são momentos de transformação”. Certo, mas nem todos os momentos são momentos de crise tão profunda quanto a que estamos atravessando hoje.
Por sorte, temos aqui um colega de armas da estatura de um Mario Barata. Quantos críticos têm essa estatura? Evidentemente que o campo da crítica não é exatamente o campo da arte, assim como a educação não é exatamente o campo da arte. Na educação, você também tem uma “verbalização”, mas o artista não verbaliza. Ele trabalha em sua própria linguagem, seja artes plásticas, música, teatro, dança, enfim, linguagens não verbais.
Para ser um bom crítico de arte, a pessoa teria que ter não só um conhecimento da cultura, mas condições de fazer comparações entre o que há e o que já foi produzido pela arte. Teria que ter uma condição que eu chamaria de condição moral; a integridade como pessoa, que se refletiria em seu exercício de crítica. E integridade moral não é bem o que impera entre a maior parte de nossos críticos, não é mesmo?
Há aquele tipo de crítico que considero mero “cronista”, não me importo nada com ele. Você tem de ter uma base sobre o que e de que ponto de vista fará seu julgamento, sua avaliação. Depois, tem de ter integridade. Se não tem, realmente não interessa
 Depoimento dado pela artista em 30/10/86 e 26/08/97 para o livro:
Gravura Brasileira Hoje : depoimentos Vol.3
SESC Regional do Rio de Janeiro
(org. Heloisa Pires Ferreira e Maria Luiza Távora)
Rio de Janeiro: SESC/ARRJ, 1997.
196p.

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