Veja trechos desse bate papo de Clarice Lispector e Iberê Camargo, publicado no Diario de Belo Horizonte em 1971
— Iberê, por que é que você pinta? perguntei-lhe de repente.
— Sabe que essa pergunta já me foi feita no questionário da Editora Vozes? Dei a seguinte resposta: só poderia responder por que é que pinto quando tiver descoberto o que eu sou e como ser.
— Esta resposta bem serviria para quando eu mesma me pergunto por que escrevo. Teria antes que ir ao profundo último do meu ser.
— Qual é o processo criador de um pintor versus o processo criador de um escritor em prosa ou poesia?
— Suponho, Clarice, que a diferença que existe esteja apenas na diferença de elemento. O pintor usa a cor, a tinta, a linha. O escritor usa a frase. Mas o impulso criador deve ser o mesmo. Que é
que você acha? Que é uma natureza diversa?
— Acho que a fonte é a mesma. Mas fiquei impressionada com Lúcio Cardoso que, depois da doença, não conseguia escrever nem ditar, pois não falava, mas pintava com a mão esquerda, já que a direita estava inutilizada, por que não escrevia com a mão esquerda? O médico explicou-me que no cérebro existe, se entendi bem, uma parte de onde sai a escritura, a palavra, e outra de onde sai a pintura.
— Mas ele pintava como escrevia? Não. Pintar é um artesanato, é saber usar os instrumentos. Assim como o escritor luta por criar com a palavra. Não há caso de um pintor que tenha feito uma
obra definitiva na primeira tentativa. Na literatura há?
— Talvez Rimbaud.
Ficamos pensando um pouco, em silêncio. Perguntei-lhe então:
— Antes de começar a pintar um quadro você o visualiza já pronto ou vai passo a passo descobrindo o mundo particular desse
quadro?
— Criar um quadro é criar um mundo novo. O artista é o primeiro
espectador de sua obra. As soluções anteriores, os conhecimentos adquiridos não servem para a obra nova. Eu só consigo pintar
Fonte ; Catálogo I.Carmargo um trágico nos trópicos

OBRAS DE IBERÊ CAMARGO E MUITO MAIS, VOCE ENCONTRA NA TOPPO ARTES.

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