Entrevista histórica de Anita Malfati  publicada no jornal  ” A Gazeta em 1955″
Quando começou a pintar?
Não sei. Desde menina eu desenhava. Minha mãe era pintora e professora de pintura. Foi com as tintas dela que comecei a fazer um pouco de pintura.
Não se recorda do primeiro quadro que pintou?
Lembro-me bem. Era um cavalinho branco, correndo. Eu teria então uns 13 ou 14 anos.
A artista continua: – Fui professora de desenho durante muito tempo. Formei-me no Mackensie e houve uma época, depois da formatura, que eu tinha a meu cargo corrigir os desenhos de 1.500  crianças por semana. Era um trabalho estafante. Depois disso fui para a Europa com uma senhora que levava as filhas para estudar música na Alemanha. Eu pretendia completar minha educação.
Na Alemanha –  Lá chegando vi uma exposição do grande artista Lewis Corinth e, entusiasmada, entrei para o seu curso de pintura Desde a primeira aula foi cientificada de que teria toda a liberdade de pintar. Depois desse curso fiz muitos outros, aqui e na Europa. Fui também aos Estados Unidos onde passei dois anos estudando. (…) Ao todo  estive morando dez anos fora do Brasil, todos eles dedicados ao estudo da pintura. Aos poucos ia preenchendo lacunas que encontrava. E ia procurando aperfeiçoar-me, mais e mais.
Falamos a seguir da verdadeira revolução que causaram os seus quadros e de outros pintores que haviam expoto com ela em 1916-1917. Como a senhora recebeu a controvérsia  em torno de seus quadros?
Com muita satisfação. Achei que era natural. E mesmo necessário. Apenas não tomei aquilo como uma revolução e nem imaginei o que ia causar mais tarde. Apenas quando o movimento tomou conta da literatura, da música e das outras artes foi que avaliei o que estava acontecendo.
E hoje? Acha que seus quadros e os de seus companheiros já são compreendidos?
Sim, naturalmente. Foi uma luta de trinta anos. Mas nós a vencemos É verdade que eu já não pinto o que eu pintava há trinta anos, hoje faço  pura e simplesmente arte popular brasileira. É preciso não confundir arte popular com folclore…
E a diferença é?
A diferença é clara. Eu pinto aspectos da vida brasileira, da vida do povo. Procuro retratar os seus costumes, seus usos e ambiente. Procuro transportá-los, vivos, para as minhas telas. Interpretar a alma popular. Fazer folclore é com meu amigo Cassio M’Boy. Ele procura lendas, histórias, crenças e então as retrata. Essa a diferença. Importante não confundir, eu não pinto folclore e não faço primitivismo. Faço arte popular brasileira.
É preciso dizer, fazendo um parênteses que a exposição de Anita Malfatti está sendo um sucesso. (…)
Eis o que nos disse Cassio M’Boy: ” Anita antes pintava com inquietação. Acho que antes ela desconhecia o problema religioso. Tinha revolução, inquietação e agitação dentro dela. Nesses três anos de repouso, em que praticamente deixou de pintar, o intelecto continuou trabalhando. Depois de sua viagem aos Estados Unidos ela deu um mergulho dentro de si e veio à tona toda a sua religiosidade, toda a calma que sentia por ter se tornado religiosa. Dai o sucesso tremendo de sua exposição atual” (…)   E termina: “Se os quadros de Anita não valessem nada – o que não é o caso –  só as suas cores já bastariam para torna-los obras de arte! Anita cria cores como ninguém. E sabe arranjá-las numa verdadeira sinfonia, harmoniosíssima.” ( fonte: Regina Ramos/ Escrevinhações)

OBRAS DE ANITA MALFATTI , voce encontra na TOPPO ARTES.

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