O giz Hagoromo é cultuado por uma elite de acadêmicos, artistas e outros ao redor do mundo, que o elogiam por sua sensação sedosa e suas cores vibrantes
Os bastões brancos caem um a um em meio ao zumbido e ao barulho de uma máquina envelhecida, onde são marcados com o nome mais célebre em giz: Hagoromo.
Os estágios iniciais do processo se parecem muito com a produção de alimentos. Os ingredientes do que o dono da empresa chama de “receita” são despejados em uma batedeira originalmente projetada para massa de pão, e o produto segue então para um amassador originalmente destinado a fazer macarrão udon. Da espessa massa acinzentada que surge, quatro ingredientes são conhecidos: carbonato de cálcio, argila, cola e conchas de ostra. Os outros três são um segredo. Em um vídeo sobre giz postado no YouTube, um fã americano tenta adivinhar um deles: lágrimas de anjo.(…)
Apesar de seu renome, o Hagoromo ainda é produzido em uma escala relativamente pequena, usando equipamentos personalizados, grande parte deles comandada por dois trabalhadores que são gêmeos idênticos – um retrocesso em uma era tecnológica em que displays interativos estão substituindo os quadros-negros.
O giz sobreviveu à Segunda Guerra Mundial e, quase 70 anos depois, ao fechamento da empresa japonesa que originalmente o fabricava. A pandemia do coronavírus é a mais recente ameaça, prejudicando as vendas à medida que a educação e outras atividades se tornam virtuais.
A existência da Hagoromo é uma história improvável que faz a ponte entre o Japão e a Coreia do Sul, dois países que têm uma relação inquieta e muitas vezes amarga desde a guerra.
A empresa que produziu o giz em suas primeiras oito décadas foi fundada em Nagoya, no Japão, em 1932, como Nihon Chalk Seizosho. Depois que suas instalações pegaram fogo durante um ataque aéreo da Segunda Guerra Mundial, a empresa foi reconstruída e a fabricação de giz foi retomada em 1947 sob o nome de Hagoromo Bungu.