Atenta aos fluxos da cidade e aos rumos da sociedade, Regina Silveira imprimiu, em 1978, 500 fotocópias de seu Pudim Da Arte Brasileira (1977) em folhas A4 e distribuiu na saída da recém-inaugurada estação Sé do metrô, em em São Paulo. A ação não foi fotografada e a obra, anônima, invadiu o tecido urbano e a percepção dos usuários do metrô com uma mensagem fronteiriça entre o doméstico e o disruptivo.
Digitado em máquina de escrever, o texto é a digressão de uma prosaica receita de pudim de coco, extraída do livro de receitas de Dona Mimi Mouro, uma querida amiga da família Silveira, de Porto Alegre. Do original, a artista muda ingredientes e altera procedimentos, de modo a denunciar o discurso morno e adocicado que percebia na arte política da época.
Caramelada e altamente picante, a receita satírica de Regina Silveira mira as doses de ideologia e de “olhar retrospectivo” praticadas então; além da “exacerbação da cor” adotada pelos pupilos modernistas das vanguardas europeias, que engrossavam sua calda pictórica com “uma colher de sopa de École de Paris”. A crítica ganha alta temperatura quando disparada contra representações de “brasilidade” que faziam o indigesto emprego do exotismo – aqui ilustradas pelo uso de “um pequeno índio ralado”, substituindo o coco.
Além da versão em xerox, o trabalho ganhou uma tiragem em ampliação fotográfica, impressa em off-set, e integrou a serie Jogos de Arte (1977).
(Fonte trechos ; Paula Azulgaray /Select)