Arte e saúde mental : relação da pandemia do Covid-19

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Além da preocupação em manter a integridade física – individual e comunitária –, outra questão surge em tempos de pandemia mundial: como garantir uma mente sã durante a quarentena? A livre expressão dos sentimentos e do inconsciente por meio das práticas artísticas e corporais pode fazer parte da solução.
Pelo menos foi o que descobriu a psiquiatra e terapeuta Nise da Silveira em meados dos anos 1940. Única mulher em sua turma de medicina   na  Faculdade  da  Bahia, a alagoana foi precursora no   uso de  atividades artísticas e musicais como método de tratamento psiquiátrico. Com ajuda de artistas e críticos de arte da época, como Almir Mavignier, quem também trabalhava no Engenho de Dentro , Abraham Palatnik, e Mário Pedrosa, ela organiza ateliês de pintura e escultura no Centro Psiquiátrico, um grupo de pesquisa para refletir sobre os sentidos daquela produção simbólica, e passa a catalogar os trabalhos que se tornam cada vez mais abundantes.
Quanto mais seus pacientes se sentiam confiantes, mais produziam. Nesse processo, Nise faz uma importante interlocução entre as teorias artísticas e os conceitos psicanalíticos de Carl Jung,com quem se correspondia.
Em 1947, os artistas do Engenho de Dentro ganham sua primeira exposição externa, na sede do Ministério da Educação e Cultura, no Rio. Mário Pedrosa, então crítico do jornal “Correio da Manhã”, ao se deparar com os trabalhos ali exibidos, afirmou: “As imagens do inconsciente são apenas uma linguagem simbólica que o psiquiatra tem por dever decifrar. Mas ninguém impede que essas imagens e sinais sejam, além do mais, harmoniosas, sedutoras, dramáticas, vivas ou belas, enfim constituindo em si verdadeiras obras de arte”.
No fim dos anos 1950, uma mudança na produção brasileira e a consolidação de artistas como Lygia Clark e Hélio Oiticica trazem novos questionamentos sobre a relação entre arte e a expressão do eu.
O caso de Lygia Clark é emblemático nesse contexto. Se a doutora Nise da Silveira foi mestre em deslocar a clínica para o campo das artes, a artista soube promover um deslocamento da arte para o campo da clínica. “São dois deslocamento que têm afinidades, pois perturbam a ordem do pensamento vigente, da sensibilidade e da expressão, mas são caminhos diferentes,” formula a professora Eliane Dias Castro.
Nise e Lygia, cada uma com sua perspectiva, reforçam a potência terapêutica do processo artístico. “Nise era uma cientista, ela elabora sua obra dessa perspectiva, interseccionando questões da psiquiatria, da psicanálise, mas ela tem uma visão de cientista,de observadora. Lygia é uma artista e seu processo criativo é parte da reflexão teórica a que se propõe.
Para as duas o processo é importante, mas Nise é quem observa, quem cuida da integridade daquele método. Já no caso de Lygia, é sua força motriz, o que a mobiliza,” afirma Eliane. (trechos por Yasmin Abdalla -SP/arte)

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