As obras de Palatnik estão em constante movimento, inovam, surpreendem. Revelam seu olhar, mostram outros olhares. O jogo de luz, sombra e movimento envolve o ambiente e cria uma cena, um espetáculo.

 

Por que o senhor decidiu ser artista, quando e como isso aconteceu?
Quando morei na Palestina, ainda criança, ganhei de presente um conjunto de pincéis e tintas, e com 14 anos comecei a pintar paisagens. Creio que eram boas essas paisagens, pois uma senhora que vendia quadros, conhecida de minha mãe, viu uma delas e começou a comprar regularmente, para revender. Lembro de ficar muito feliz quando comprei uma bicicleta inglesa com o dinheiro dos quadros. Sei lá, talvez aquela bicicleta me tornou artista..
Sua colaboração nas atividades artísticas terapêuticas desenvolvidas no hospital psiquiátrico no Rio de Janeiro, em 1948, quando o senhor tinha 20 anos, mudou sua visão sobre a arte. O que o senhor observou que o fez mudar sua visão e sua criação – até então acadêmica – para trabalhar com a luz?
O contato com as pinturas dos internos daquele hospital foi um choque para mim. As obras maravilhosas do Raphael Domingues Filho e Emygdio de Barros, dentre outros, me levaram a acreditar que eu nunca faria algo com a riqueza e densidade que via nas pinturas realizadas por aquelas pessoas, que, aliás, não tiveram anteriormente nenhuma instrução artística. Parei com tudo relacionado à arte por alguns meses, e depois vieram as ideias de produzir uma obra com luz e movimento, uma pintura com luz, como afirmaram na época. Assim, desenvolvi os cinecromáticos, os quais fui aperfeiçoando ao longo de mais de 10 anos. O primeiro era um monstro de polias, cordas, articulações, lâmpadas e centenas de fios elétricos. Depois diminuí as proporções, coloquei engrenagens, acomodei os elementos em uma caixa de madeira com tela, e as obras ficaram como são apresentadas até hoje.
Sua transição da arte acadêmica para a arte cinética se deu no fim da 2ª Guerra Mundial, em 1949, como foi a reação do público e da classe artística que nunca haviam visto este tipo de arte?
O primeiro cinecromático, que construí durante quase dois anos, foi apresentado na I Bienal de São Paulo, em 1951. Só foi exibido pelo fato de a delegação japonesa ter desistido de comparecer, em cima da hora. Minha obra não foi selecionada inicialmente, pois não se enquadrava nas categorias aceitas naquela época, ou seja, não era pintura, nem escultura, nem tampouco desenho ou gravura. Mas tendo entrado na Bienal, o cinecromático acabou recebendo uma menção especial do júri internacional.
Seus estudos sobre luz e movimento deram origem aos Aparelhos Cinecromáticos e aos Objetos Cinéticos, fazendo o senhor um dos pioneiros da arte tecnológica no mundo. Conte, por favor, como é o processo de construção dessas obras.
No caso dos objetos cinéticos, eu faço previamente desenhos da disposição das peças, das hastes e articulações e da posição do motor (ou dos motores), como um projeto. Depois construo o cinético seguindo esse projeto, com poucas modificações em relação ao desenho original. Às vezes preciso mudar a posição de uma peça, ou as dimensões de certos elementos, o que vejo apenas durante a construção. Já no caso dos cinecromáticos, também existe uma fase de projeto, onde desenho a disposição de lâmpadas, das hastes e das articulações, mas a sequência de acendimento, as cores das lâmpadas e os tempos de funcionamento de cada lâmpada somente são definidos posteriormente, num processo de testes relativamente demorado. Assim, não sei previamente quanto tempo e em que ordem serão iluminadas as partes da tela do cinecromático. Portanto, o resultado final só é fixado quando fico satisfeito com a estética de cada período do ciclo de funcionamento da obra. Aliás, esses dois tipos de obras, cinéticos e cinecromáticos, são bem diferentes das minhas pinturas em ripas de madeira, das pinturas com cordas e das obras em relevo de cartões. No caso desses tipos de trabalhos, tenho apenas uma percepção geral da escolha de cores ou do relevo que quero usar. Durante o próprio ato de montar a obra é que ficam definidas as cores, o perfil de corte e o desenho final. Nessas obras, portanto, não há nenhum projeto prévio. As obras vão surgindo na medida em que vou fazendo.
Palatnik relata uma passagem curiosa sobre esta experiência da criação dos Aparelhos Cinecromáticos: “Eu estava mexendo com luzes, arames e um vizinho achou que eu era um terrorista”, brinca. “Me deu essa ideia de fazer alguma coisa em movimento, ainda era com cilindros, umas polias e uma série de artifícios. As ligações eram feitas com barbante, porque eu queria experimentar, mas também sabia que não poderia finalizar com esse material. E o vizinho, com uma luneta, de vez em quando olhava para o quarto, estranhou o que eu fazia e resolveu chamar a polícia”, conta.
Fonte: Marianna Camargo , revista Ideias

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